terça-feira, 19 de agosto de 2008

Just a few thoughts

Esse post vai ser bem óbvio e não quero me desculpar por isso.

Ser mendigo deve ser uma merda. Às vezes acordamos com as costas fazendo crec-crec, nós que dormimos em camas americanas, com pillow tops e travesseiros da Nasa. Eles dormem no chão. Não tem aquela sensação gostosa de um belo banho após um dia quente. Fazem côco e xixi na rua. Etc, etc, etc.

Mas tem esse cara que fica na Oscar Freire. Ao meio-dia de uma sexta nada casual, médicos passam pisando firme, indo ao restaurante por kilo com o ímpeto de quem vai retirar um tumor do salvador da Pátria. Internos que só dormiam nas aulas, copiavam trabalhos do Zé Moleza e agora só observam consultas vão almoçar trajando jaleco e estetóscopio, como se precisassem ascultar o coração do bife à parmegiana. E está nosso sujeito: sentado na calçada, fedendo, fumando um beck, balançando seus braços ao som do radinho de pilha. Free as a bird? Free as the Bird himself never have been. E nós preferimos não ver, desviar, ignorar. Porque se um mendigo qualquer já incomoda, um mendigo que tem algo que perdemos é quase insuportável.

domingo, 17 de agosto de 2008

Eu, à mão livre

Fruitless. Pointless.

Gosto de tudo e de todos, quando eles estão bem longes. Gosto do Acre, agora que saí de lá. Gosto de Boston, enquanto não vou. Gosto da Fê, agora que ela está em outro continente.

Faço planos, muitos planos. Vivo? Não sei. Às vezes acho que a coisa mais viva que deixo chegar perto é a dor. Dor física mesmo. E aí dói tudo: minha garganta, meu pulmão, meu pescoço, meu joelho, minha cabeça, minha bexiga, minha barriga. Acho que entendo o porquê. É preciso ter algo orgânico, algo vivo, perto/dentro de mim.

Eu me escondo e quero trancar todas as portas. A internet me oferece uma vitrine do mundo. Coisas para comprar e incorporar, ver se encho o vazio. Fico com medo de alguém vir olhar o que estou fazendo, o que estou vendo. Crio um mundo doido, cheio de desejos, fantasias e amigos imaginários. Faço listas de quais pedidos eu faria para o gênio da lâmpada (sim, sou louca, bienvenue para quem só percebeu agora).

Você pode me perguntar se precisa ser assim. Não, não precisa. Tenho opções, tenho escolhas, tenho amigos, posso preencher com programas e companias. Mas é estranho, sempre foi. O desconforto, o medo (estão aqui, sempre estiveram, apenas algumas vezes mais, outras menos). Quando menos, é só uma hesitação, uma vergonha, um não saber do que falar, um medo do silêncio constrangedor. Quando mais, é um abismo. As pessoas felizes, as práticas, as simples, as resolvidas, todas elas do lado de lá. Sinto raiva das pessoas sem travas. Sinto raiva da felicidade obrigatória. Sinto raiva e desanimo.

E aí tem o texto, agora nesse formato louco de blog. Meu íntimo, agora publicado, para quem quiser saber. Escancarar a loucura, abrir para o mundo, vestir a casaca? Ou simplesmente estetizar os sentimentos, transformar o conteúdo em forma, virar o poeta fingidor que sente o que deveras sente, mas cuja forma aliena a mensagem e se torna o estandarte? Depois de terminar esse texto, irei relê-lo. Se estiver ficado bom, vou sentir orgulho de mim mesma e não vou mais pensar no que estava pensando. Vou só esperar que os outros gostem. Não sei se isso é uma tábua de salvação ou um cinto de pedras. Não sei.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Lonely as I am, together we cry

E faz calor. Calor insuportável, sufocante, que amortece meus sentidos e lentifica minhas reações. Meus olhos não se levantam, sem força e com medo de cruzarem e não se conterem. Faz frio e tudo congela. Os olhos da vizinha me dissecam. O que ela sabe? O que ela sente? O que ela espera?
O elevador no nosso andar. E eu me apavoro. Eu ando e ando, não sei como, a gravidade pesa 30 G. A rua é habitada por um povo estranho que não sabe minha língua. Eu sento. Na calçada, no ponto de táxi. As canetas se escondem dentro da minha bolsa e só acho uma marca-texto. Marcarei e sublinharei, grifarei fortemente os trechos mais importantes. Para eu mesma, única atriz, única espectadora do meu próprio monólogo.
Eu falo. As palavras saem da minha boca e eu me surpreendo com a minha máquina. Meu discurso tão automático, tão frio, tão longe do que sinto e tão perto. Versos bregas, soltos e mal feitos me vêm à mente. Não sinto força para lutar contra eles. Faz frio, faz muito frio.