Bem ao estilo do Mr. Eko, vou começar do começo. Dizem que Adão e Eva cometeram o pecado original ao provar o fruto da árvore proibida. Todo mundo sabe que isso é uma metáfora, mas é engraçado pensar que ninguém sabe exatamente do quê. O que catso o fruto e a árvore representam? Já ouvi várias versões, não faço a menor idéia de qual seja a verdadeira, mas a minha favorita é aquela que diz que a árvore era a “árvore do conhecimento” e que, ao comer o fruto, Adão e Eva tomam conhecimento de que são mortais. A partir disso, eles tomam para si seus destinos, tentando evitar a morte. Alguns dizem inclusive que essa busca de algo que evitasse a morte criou a ciência.
A idéia desse texto não é divulgar uma mensagem “vamos nos drogar, fumar, comer feijoada no café da manhã e tá tudo ótemo”. A medicina é algo essencial e tem doenças das quais ninguém devia morrer mesmo (como diarréia, desnutrição etc). E também sou uma pessoa da ciência, e não da fé. Minha inquietação é a seguinte: por termos consciência e linguagem, sabemos que vamos morrer e temos medo da morte, seja por medo da dor, por apego ou por seja lá o que for. Mas não tem jeito, lose your illusions: vamos todos morrer. Mas nosso medo é tão grande que ele se esgueira e nos invade, guia nosso comportamento sem percebemos. Em vez de nos darmos conta do nosso medo, somos tomados por ele e criamos uma sociedade obcecada pela conservação de algo definitivamente perecível. Fico louca quando leio alguma reportagem sobre velhice em que para dizer que um velho está bem dizem que ele parece um jovem. Então a velhice na real é sempre ruim. Fazemos um monte de estudos para descobrir como viver mais. Descobrimos, por exemplo, que comer pouco aumenta a expectativa de vida. Nosso medo (e também nossa ignorância) nos impede de ver que a pesquisa só diz que se passarmos a vida toda sem aproveitar o prazer supremo que é a boa comida temos uma probabilidade de x% de vivermos mais 5,43 meses. Procuramos culpados para a nossa morte: é o filho da puta do fumante da mesa a cinco metros de distância que está me matando, já que a pesquisa nos diz que quem fica por perto de um fumante tem y% a mais de chance de morrer. Esqueça: nossa chance de morrer é de 100%.
2 comentários:
Olha, acho que até passei um pouco do ponto nesse lance de ver que temos de viver o hoje, não é verdade?
Excelente texto, como sempre. Sua média de qualidade vai bem melhor que a minha.
Talvez seja essa a tão procurada diferença entre homens e animais... a consciência da morte. Muito bem observado.
ps.: Não acho que esse texto seja antigo... vc fala de gene egoísta, sei que vc viciou nesse escritor recentemente...
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