Esse post vai ser bem óbvio e não quero me desculpar por isso.
Ser mendigo deve ser uma merda. Às vezes acordamos com as costas fazendo crec-crec, nós que dormimos em camas americanas, com pillow tops e travesseiros da Nasa. Eles dormem no chão. Não tem aquela sensação gostosa de um belo banho após um dia quente. Fazem côco e xixi na rua. Etc, etc, etc.
Mas tem esse cara que fica na Oscar Freire. Ao meio-dia de uma sexta nada casual, médicos passam pisando firme, indo ao restaurante por kilo com o ímpeto de quem vai retirar um tumor do salvador da Pátria. Internos que só dormiam nas aulas, copiavam trabalhos do Zé Moleza e agora só observam consultas vão almoçar trajando jaleco e estetóscopio, como se precisassem ascultar o coração do bife à parmegiana. E está nosso sujeito: sentado na calçada, fedendo, fumando um beck, balançando seus braços ao som do radinho de pilha. Free as a bird? Free as the Bird himself never have been. E nós preferimos não ver, desviar, ignorar. Porque se um mendigo qualquer já incomoda, um mendigo que tem algo que perdemos é quase insuportável.
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2 comentários:
Ok, o 1o parágrafo foi óbvio, mas foi só pra introduzir o 2o parágrafo que termina com uma epifania.
Arrasô.
Sim, muito bom.
Bom demais.
Eu queria ter escrito esse segundo parágrafo.
E eu odeio cada vez mais os médicos também, by the way.
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